terça-feira, 20 de outubro de 2009

Como era de se esperar, perdi a senha do meu blog, razão pela qual não publiquei nada deste o mês passado. ;)
Então, aí vai mais um trecho do livro do John, espero que apreciem!
“O caminhão foi subindo o Carmel Hill em ré, passando pela estrada do Jack’s Peak. Estava entrando na última e mais íngreme etapa da subida quando o motor, resfolegando, arquejou subitamente, soltou um gemido estrangulador e parou. O silêncio parecia total quando o motor parou. Gay, que estava de qualquer maneira virado para uma descida, deslizou por uns 15 metros e virou na estrada do Jack’s Peak..
- O que foi? – indagou Mack.
- Acho que o carburador – respondeu Gay.
O motor fervia e rangia de calor, o jato de vapor que saía pelo cano de descarga soava como o silvo de um crocodilo.
O carburador de um Modelo T não é complicado, mas precisa de todas as suas peças funcionando. Há uma válvula de agulha e a agulha deve estar sempre virada para o buraco correspondente. Se tal não acontecer, o carburador não funciona.
Gay pegou a agulha e verificou que a ponta estava quebrada.
- Como diabo uma coisa dessa poderia ter acontecido? – indagou ele.
- Magia, apenas pura magia – disse Mack – Pode consertar?
- Não. Temos de arrumar outra.
- Quanto custa?
- Em torno de um dólar, quando é nova...uns 25 cents, quando é usada.
- Tem um dólar no bolso? – perguntou Mack.
- Tenho, mas não estou precisando agora.
- Volte o mais depressa possível, está bem? Vamos ficar esperando aqui.
- Vocês não poderiam mesmo sair daqui sem a agulha da válvula.
Gay foi até a rodovia. Sacudiu o polegar para três carros, antes que um parasse para dar carona. Os rapazes ficaram observando-o embarcar no carro e descer a encosta. Não tornaram a vê-lo por 180 dias.
Ah, a infinidade de possibilidades! Como se poderia prever que o carro que deu carona a Gay enguiçasse antes de chegar a Monterey? Se Gay não fosse mecânico, não teria consertado o carro. Se não tivesse consertado o carro, o dono não o teria levado ao bar de Jimmy Brucia para tomar um drinque. E por que tinha de ser aniversário de Jimmy? Entre todas as possibilidades do mundo, milhões dela, todos os eventos que ocorreram naquele dia levaram inexoravelmente à cadeia de Salinas. Sparky Enea e Tiny Colletti havia feito as pazes depôs de uma briga e estavam ajudando Jimmy a comemorar o aniversário. A loura apareceu. Começou uma discussão musical diante da vitrola. O novo amigo de Gay, que conhecia uma chave de judô, tentou demonstrá-la a Sparky. Mas a chave saiu errado e ele acabou com o pulso quebrado. O guarda estava com dor de barriga...Eram todos detalhes irrelevantes e sem qualquer relação entre si, mas levaram na mesma direção. O Destino simplesmente não queria que Gay participasse daquela caçada de rãs. Assim, o Destino deu-se a um grande trabalho, envolvendo muidas pessoas e acidentes, para mantê-lo afastado. Quando o clímax final aconteceu, com a fachada da sapataria de Homan destruída e o grupo experimentando sapatos na vitrine, somente Gay não ouviu o apito de incêndio. Foi o único que não foi ver o incêndio. Assim, quando a polícia chegou, encontrou-o sentado sozinho na vitrine quebrada da Holman, um sapato marrom num pé, um sapato preto envernizado no outro"

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

"Eddie era garçom substituto em La Ida. Trabalhava quando Whitey, o garçom regular, ficava doente. O que acontecia, diga-se de passagem, com tanta frequencia quanto Whitey julgava que podia fazê-lo impune. Cada vez que Eddie trabalhava, algumas garrafas desapareciam. Era por isso que não podia trabalhar com muita frequencia. De qualquer forma, Whitey até gostava que Eddie o substituísse. Estava convencido, corretamente, que Eddie jamais tentaria ficar no emprego em caráter permanente. A rigor, Eddie não precisava subtrair muitas garrafas. Mantinha um cântaro de um galão debaixo do balcão, com um funil no gargalo. Tudo o que restava nos copos, Eddie despejava pelo funil, antes de lavá-los. Se havia uma discussão ou todos se punham a cantar em La Ida, Eddie despejava pelo funil copos pela metade ou dois terços cheios. Isso também acontecia já bem tarde, quando a camaradagem reinante atingia o seu desfecho lógico. A mistura de bebidas, o ponche resultante que levava para o Palace, era sempre interessante e algumas vezes surpreendente. A mistura de uísque de centeio, cerveja, bourbon, scotch, vinho, rum e gim era a mais constante, mas de vez em quando um freguês diferente pedia um uísque com soda, anisete ou curaçau. Esses pequenos toques davam uma característica marcante ao ponche. Eddie tinha o hábito invariável de despejar um pouco de angostura no cântaro, antes de ir embora. Numa noite boa, o cântaro ficava quase cheio. Era uma fonte de satisfação para ele o fato de ninguém jamais perceber. Eddie havia constatado que um homem pode embrigar-se com meio copo assim como com um copo inteiro, quando está disposto a ficar embrigado" (John Steinbeck - A rua das ilusões perdidas).

O pq deste blog


Nunca pensei em criar um blog! Na verdade, sequer tinha idéia de como ele era criado. E sequer sei, ao certo, o que nele deve ser inserto.

Entretanto, penso que neste espaço poderei compartilhar com outras pessoas minha paixão pela arte da escrita. E neste espaço poderei publicar trechos literários que, de certa forma, me fazem sorrir antes de dormir!

Espero que apreciem!

Saudações!

Samanta.